quarta-feira, 2 de maio de 2007

No País do Cajú



Entrámos no mês de Maio, e com ele uma época muito especial para a Guiné-Bissau! Por esta altura pelas terras guineenses, regista-se uma azáfama inusitada, pois é o tempo da colheita do cajú, mais conhecida por campanha do cajú, a mais importante produção nacional. O país fervilha de actividade, sente-se no ar uma agitação salutar, uma dinâmica comercial sem paralelo. Por todo o lado se assiste a um vai-vem de camiões, carrinhas, e tractores, transportando até aos mais recônditos lugares, materiais para a campanha: vazilhames para o vinho de cajú, sacos de juta para o acondicionamento da castanha, o arroz para a troca ou permuta, e outros víveres para o abastecimento dos postos de comercialização. De retorno, carregam-se as primeiras castanhas com destino aos armazéns da capital onde aguardarão o embarque par um qualquer porto da India.
Dizem-me que as expectativas para a campanha deste ano são boas! Os cajuais estão lindos, carregados e livres de moléstias. Há já algum tempo, que se vêm sob frondosos cajueiros toda a parafernália utilizada para a actividade cajueira: os bidões, os baldes a “canoa” de espremer e os os oleados ou serapilheiras para a secagem da castanha! A actividade é intensa! Trabalha-se e canta-se! Ouvem-se risos alegres e galhofas de crianças, e o chilrear das aves felizes pelo banquete oferecido pelos frutos maduros. Paira no ar o odôr adocicado de cajú maduro e de mosto fermentado! É a festa da abundância! Como seria bom, que este frenesim de actividade se prolongasse pelo ano todo! Agora com o cajú, depois com a plantação do arroz e sementeira da mancarra, seguido das respectivas colheitas em Novembro, Dezembro e Janeiro. Seriam novas campanhas, e novas abundâncias para o bem do povo e da economia guineense.
É preciso encontrar uma solução para o aproveitamento integral, das nossas enormes potencialidades no domínio da produção agrícola e nomeadamente orizícola! As “bolanhas” que outrora produziam arroz para satisfazer toda a procura interna, e para exportação, estão hoje abandonadas! É algo de incompreensível e confrangedor! Tanto mais que o arroz constitui a base de alimentação do guineense. Não faz qualquer sentido, que havendo potencial produtivo de arroz no país, as nossas populações continuem dependendo das importações ou da ajuda alimentar internacional. Há que inverter este estado de coisas! É um imperativo nacional! Não me venham com argumentos falaciosos como falta de vantagens comparativas na produção orizícola! Se se acabasse com os subsídios à produção e à exportação nos países mais ricos, a conversa seria outra, e a competição seria mais justa. Como isso ainda não aconteceu, teremos de levar a cabo uma política de soberania alimentar, num quadro de cooperação regional, com vista a garantir que:“o direito dos povos de definir suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos, com base na pequena e média produção, respeitando as próprias culturas e a diversidade dos modos de produção agropecuária, de comercialização e de gestão dos espaços rurais, nos quais as mulheres desempenham um papel fundamental.” se materialize, como foi definido na declaração de Havana e de Niéléni, do Foro Mundial sobre a Soberania Alimentar.
“Garantir Alimentação para Todos” deveria constituír uma prioridade na política económica guineense, o que pressupõe uma maior atenção ao sector agro-pecuário do país.
Termino desejando uma boa campanha a todos os produtores e operadores!
A Guiné precisa, a Guiné merece!