sábado, 10 de fevereiro de 2007

Relação África-China




Tem havido muito “alarido” à volta da viagem do presidente da China, Hu Jiatao a vários países africanos!E a propósito, os jornais, as rádios e as televisões têm dedicado amplo espaço à presença chinesa em África! Citam-se números, analisa-se a evolução, fazem-se projecções! Quanto a conclusões, as opiniões dividem-se! A maioria aponta para o perigo que a parceria China-África representa para a democratização do continente africano, já que os grandes financiamentos e investimentos chineses não têm qualquer condicionalidade, nem de boa governação, nem de respeito pelos direitos humanos! Há mesmo quem aponte para uma dominação do tipo neocolonial, não acreditando no princípio da vantagem recíproca, ou de ganhadorganhador anunciado em Janeiro de 2006 pelo governo chinês na sua carta de politica para Africa.
O perigo chinês pode existir!Ninguém nega essa possibilidade! Mas a tentação hegemónica do Império do Meio, depende daquilo que os governos africanos permitirem! E se a memória não fôr curta, deverão lembrarse do que foi o colonialismo, que mergulhou o continente numa longa noite da sua história. Apesar de todos os "perigos" sempre é melhor ter mais um parceiro ( ou dois, contando com a India ) de desenvolvimento, do que continuar enfeudado ao ocidente do G8 que muito promete e pouco tem feito pelo continente. Em 2005, Tony Blair e John Gordon, lançaram com toda a pompa e circunstância, a Comissão para África, cujo relatório intitulado “Nosso Interesse Comum” faz o diagnóstico dos problemas africanos, e aponta soluções, que passam por massivos investimentos que o G8 deveria financiar!
Volvidos quase dois anos, continua tudo como dantes! E no entanto o Ocidente tem responsabilidades morais para com a Africa, se não vejamos:
1.Foram responsáveis por séculos de colonização com os resultados que se conhece;
2.Balcanizaram o continente, criando territórios administrativos que nada tinham a ver com as fronteiras interétnicas, o que tem originado vários conflitos até aos dias de hoje;
3.Deixaram poucas infraestruturas;
4.Investiram muito pouco na formação e na educação ( isto é, na valorização do capital humano );
5. Não prepararam élites para a governação pósindependência;
6. Têm vindo a matar a actividade agrícola africana com subsídios dados pelos países do G8 aos seus agricultores, que podem assim exportar a preços altamente concorrenciais, ( isso em economia chama-se "dumping" );
7. Os termos de troca têm sido desfavoráveis ao continente devido às políticas económicas dos países ricos;
8. O Investimento Directo Estrangeiro do G8 em África é marginal, e representa menos de 2% do IDE mundial.

É evidente que para o atraso de Africa contribuem outras causas! Causas de carácter endógeno, nomeadamente a questão da boa governação, a corrupção ( atenção a este factor! Onde há corruptos há corruptores, e estes quem são? ), as pandemias do HIV/Sida e da malária os conflitos étnicos ( devido à partilha de Africa realizada em 1884/85 na Conferência de Berlim, que não tomou em consideração as fronteiras étnicas existentes ) e os desastres naturais ou calamidades. O resultado de tudo isso, é a pobreza generalizada , que tem contribuído para a vaga de emigrantes, que afluem à Europa, e não só, à procura de melhores condições de vida! Perante essa realidade, a União Europeia, procura gizar uma nova política para Àfrica, que tudo leva a crer, será apresentada na cimeira Europa-África de Novembro de 2007 em Lisboa! O que se pretende é travar o fluxo imigratório! Como? Investindo mais em África, para fixar as populações? Talvez! Aguardemos para ver! Perante todo este panorama, é salutar a presença chinesa ( e Indiana ) em Africa, onde estão a investir em grande escala, construindo e reabilitando infraestruturas, constituindo empresas mistas, perdoando a dívida e fomentando o comércio africano! E deste modo estão a chamar a atenção do G8 e de outros países ricos para o continente até agora esquecido! Pode ser que desta vez os países industrializados dêm mais atenção ao continente negro, e olhem para ele, não como o eterno pedinte, mas como um verdadeiro parceiro de desenvolvimento! E assim sendo, a Africa poderá vir a registar taxas mais elevadas de crescimento económico, permitindo-lhe combater a pobreza, e melhorar as condições de vida da sua população! Esperemos que a Hora de África tenha finalmente chegado!