quarta-feira, 4 de julho de 2007

O Gana Festeja a Descoberta de Petróleo



O petróleo tanto pode ser uma benção como uma maldição! Tudo depende da utilização que se fizer da riqueza que ele proporciona. A Noruega e a Nigéria são exemplos dessa ambivalência! No caso da Noruega, temos o exemplo da boa gestão e utilização dos recursos petrolíferos, que é um modelo a nível mundial; relativamente à Nigéria, temos o que de pior existe na gestão dos recursos naturais, em que as enormes receitas provenientes do petróleo, têm proporcionado um ilícito enriquecimento de uma clique dirigente, em detrimento do desenvolvimento económico e social do país, que esses rendimentos poderiam e deveriam ter propiciado.
Vêm estas considerações a propósito da recente descoberta de petróleo no Gana! No ano em que o país comemora o 50º aniversário, o presente não poderia ser melhor! 600 milhões de barris de petróleo "light" foram descobertos no furo Mahogany, na costa ganesa, pela empresa Anadarko Petroleum Corporation, que fez o anúncio no passado dia 18 de Junho, secundado pela BBC que fez uma ampla reportagem sobre o assunto, no programa "Focus on Africa" de 19 de Junho. O país inteiro celebra a descoberta! De repente, os ganenses, jovens e velhos, sonham com um país mais próspero e com melhor bem-estar para todos. Já há quem veja um Gana convertido num " Leão Africano" com uma economia forte e dinâmica a exemplo dos " Tigres Asiáticos". Segundo notícias difundidas, abriram-se garrafas de champanhe no Castelo de Osu, sede do governo do Gana, onde o presidente John Kufuor comemorou o fausto acontecimento. Quem poderia criticar tal celebração, sabendo que se está perante a possibilidade de transformar o Gana de um país pobre numa sociedade abastada? O Gana tem vindo a registar nos últimos anos um progresso assinalável, e tem sido apontado como exemplo em África. Os indicadores económicos são encorajadores. Depois de anos de estagnação, a economia está a crescer graças às políticas implementadas pelo Governo de John Kufuor. Em 2006 Gana registou um crescimento de 6,2%, a inflação está em franca queda, e as taxas de juros dos empréstimos bancários que eram há cinco anos na ordem dos 50%, baixou para 20% e continua tendencialmente a baixar. Com um crescimento relativamente forte, a inflação em queda, e o saldo da balança de transações correntes positivo, permitiu ao país a constituição de reservas externas que fornece uma "almofada" contra eventuais "choques". O Gana registou uma enorme redução da subnutrição humana, passando de 1.790 calorias por dia e por pessoa nos anos 80, para mais de 2.800 calorias por dia e por pessoa, actualmente, graças ao aumento da produção agrícola e pecuária com introdução de espécies melhoradas e expansão de área cultivada. Hoje pode dizer-se que no Gana a democracia funciona e a economia comporta-se bem. Face a estes sucessos, e à estabilidade interna, a diáspora ganense tem acreditado no seu país, efectuando remessas, que atingiram em 2006 mais de 4 mil milhões de dólares americanos. Todo este relativo sucesso foi conseguido sem o petróleo! Por isso o presidente Kufuor, considera que com os recursos do petróleo o Ghana pode ambicionar novos vôos na senda do seu desenvolvimento. Contudo, pairam no ar incertezas! Nos meios de comunicação impressos e electrónicos, os ganenses preocupados perguntam aos seus líderes como podem estar seguros de que tudo isto não é uma miragem, e que venha acontecer o mesmo que na Nigéria, onde os cidadãos apenas ouvem falar em milhões de petrodólares e depois não se vêm boas escolas, boas estradas, nem hospitais que funcionem. O presidente Kufuor dissipou as dúvidas dizendo, "só idiotas ou gente sem valores poderia ter tido a quantidade de dinheiro que a Nigéria arrecadou com o petróleo e continuar a ser pobre". Tem toda a razão Senhor Presidente! Esperamos e desejamos que o Gana trilhe um caminho bem diferente, para que amanhã não se venha dizer, que o belo presente recebido pelo 50º aniversário, foi um presente envenenado.