segunda-feira, 11 de junho de 2007

Eleições no Senegal



No passado dia 3 de Junho, noventa dias depois do acto eleitoral que reconduziu Abdulaye Wade à presidência, com cerca de 56% dos votos, muito contestados, o Senegal voltou às urnas, desta vez para eleger os 150 deputados à Assembleia Nacional. Se tudo isto parece perfeitamente normal, tanto mais que o país é considerado uma vitrina de democracia na África Ocidental, já os resultados da participação, deixam a todos algo preocupados! Dos cerca de cinco milhões de eleitores pouco mais de um milhão e setecentos mil exerceu o seu direito de voto; os restantes abstiveram-se, seguindo a recomendação da oposição coligados na Frente Siggil Senegal ( que significa em ouolof "levanta-te Senegal" ) constituído por 17 partidos. Com uma tão baixa taxa de participação, ( cerca de 35% dos eleitores inscritos ) e que é a mais baixa de sempre no país, é caso para questionar qual o sentido destes resultados. Para já, o campo presidencial, do PDS ( Parti Democratique du Senegal ), e do SOPI ( "mudança" ) verá o seu peso aumentar no parlamento, certamente com mais de 125 deputados em 150, já que os 13 partidos que concorreram com o PDS, partido no poder, têm fraquíssima representatividade. Pode parecer uma vitória estrondosa para o presidente Wade e o seu partido, mas sê-lo-á? Vejamos antes de mais porque razão a oposição boicotou as legislativas de Domingo passado:
- As eleições presidenciais de 25 de Fevereiro, foram objecto de forte contestação, da oposição por considerá-las que não foram justas nem transparentes, e que terá havido manipulação por parte do poder. A esta contestação nem o governo nem o Presidente se dignaram responder, tendo este último coarctado qualquer diálogo;
- A situação económica e financeira do país é preocupante, com uma taxa de desemprego a rondar os 45%, o que tem incentivado a emigração, sobretudo de jovens;
- A oposição acusa Wade de não ter uma política coerente e eficaz para o combate à pobreza;
- Acusam o presidente de se furtar ao diálogo e utilizar uma linguagem e uma atitude violenta em relação aos opositores, no velho estilo de um chefe de estado africano tradicional, que tende a desaparecer;
Um estudante da Universidade Cheik Anta Diop de Dakar, Rochay Ba, declarou: " O presidente Wade comporta-se como um rei absoluto, não escuta as pessoas. Os estrangeiros dizem que o Senegal é um modelo de democracia, mas nós os senegaleses não constatamos isso". Esta declaração reflecte o desencanto de muitos senegaleses perante a governação de Wade.
Com estas eleições o poder de Wade saírá reforçado? Em termos de legitimidade formal sim, mas em termos de legitimidade moral e ética, a imagem da democracia senegalesa fica sériamente manchada, sobretudo quando o "Gorgui" ( velho em ouolof ) como é tratado Abdoulaye Wade já com 81 anos, ameaça todos os membros do seu partido que se abstiveram de séria punição, e que a oposição, que ele considera de gente inválida, com este boicote nada vai conseguir.
O mínimo que se pode dizer, é que é estranho vermos um antigo opositor de mais de duas décadas ao regime de Senghor e Abdou Diouf, ter uma conduta de "rei e senhor" de cariz menos democrático que a dos seus antecessores, que ele tanto criticava e tanto combateu.