terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Recordando Martin Luther King Jr.





Martin Luther King Junior completaria hoje setenta e nove anos de idade, se uma bala assassina, não lhe tivesse retirado a vida no dia 4 de Abril de 1968 na cidade de Memphis no Tennessee. Tinha apenas 39 anos!
Luther King, é sem sombra de dúvidas, uma das figuras mais proeminentes da história americana do séc.XX! Esta notoriedade advem-lhe do papel que desempenhou numa das grandes transformações que a sociedade americana sofreu no séc. passado, que foi o fim descriminação racial institucionalizado, de que eram as principais vítimas os afro-americanos! Mas o combate que Luther King travou teve uma característica, que não sendo inédita, revelou ser de uma grande eficácia. À violência do opressor, o Movimento dos Direitos Civis que ele dirigia, em vez de responder com os mesmos argumentos, opôs a resistência pacífica! Sendo um pastor da Igreja Baptista, um homem profundamente religioso, com uma formação que ia para além das questões teológicas, ( obtida no seminário de Crozer em Chester na Pensylvania ), Martin Luther King era também sociólogo pela Universidade de Boston, o que lhe dava bases para o conhecimento e intrepretação do meio social e da idiossincrasia da sociedade americana de então, sobretudo do "Deep South" ( no Sul Profundo da América ), onde pontuavam as leis de Jim Crow. A opção pela resistência pacífica, que resultava da sua formação religiosa e dos estudos que fizera das obras de Mahatma Ghandi, encontrou uma grande oposição, sobretudo entre os jovens afro-americanos, que defendendo métodos mais radicais, se identificavam com os ideais do movimento Black Power de Stokely Carmichael e de Willie Ricks! Apesar de tudo, o discurso persuasivo de King, a sua determinação e resistência, e graças ao apoio de vários líderes locais, levaram a que o Movimento de Direitos Civis tivesse uma enorme adesão em todo o país, como ficou demonstrado aquando da Marcha de Washington a 28 de Agosto de 1963, que reúniu no Washington Mall mais de 250 mil pessoas de todas as cores, credos e raças, e onde Luther King proferiu um dos seus mais brilhantes discursos: "I Have a Dream". Ao recordarmos Martin Luther King, não podemos deixar de nos lembrar de Rosa Parks que protagonizou em 1 de Dezembro de 1955 um acto que veio a revelar-se decisivo, no movimento dos direitos cívicos e que projectou a liderança do Rev. Luther King. Ao recusar ceder o seu lugar a um passageiro branco num autocarro em Montgomery (Alabama) Rosa Parks despoletou uma das maiores e mais eficazes acções de massas dos Estados Unidos, o boicote aos autocarros pela população negra da cidade, que durou 381 dias e acabou com o fim da segregação nos transportes públicos no Estado de Alabama. Foi nesse período que a capacidade de organização e liderança do Dr. King, se revelou em toda a sua dimensão. A partir daí, a sua acção tomou tal magnitude, que o projectou da sua pequena paróquia em Montgomery para toda a nação e para o mundo!
Mas neste momento em que estamos a celebrar a data do seu nascimento, 15 de Janeiro de 1929, mais do que efectuarmos uma descrição biográfica deste grande lutador e paladino dos direitos cívicos, interessa conhecer o legado que nos deixou, e em que medida esse legado influenciou e influencia os movimentos de cidadania dos tempos de hoje! Antes de tudo há que desfazer um equívoco, em que muitos caem na análise do perfil de Luther King, ao fazerem-nos crer que ele era um sonhador e que o seu legado histórico não tem relevância para o nosso tempo! Ambas as posturas, a de sonhador e da irrelevância são incorrectas! Martin Luther King não era um sonhador inconsequente, mas um líder religioso muito realista com os pés bem assentes na terra! Tinha um sonho, um ideal de poder ver um mundo diferente, com mais igualdade social, económica, política, religiosa e racial. Ou seja, acreditava na completa liberdade dos seres humanos, mas essa liberdade devia ser conquistada como diz numa carta escrita da prisão em Birmingham em 1963. " a liberdade nunca é dada voluntáriamente por quem nos oprime, ele tem de ser exigida, conquistada, por quem está a ser oprimido ". Luther King foi mais longe quando ao analizar o fenómeno social da liberdade, refutou o tipo de religião que se apregoa aos pobres, aos oprimidos e excluídos sociais, para que se mantenham na inércia, no conformismo, no derrotismo e no fatalismo! Por isso no seu livro "Where do we go from here: Chaos or Community? " escrito em 1967, ao reflectir sobre a liberdade diz claramente: " a liberdade não se ganha através da aceitação passiva do sofrimento! A liberdade ganha-se lutando contra o sofrimento. " e ainda na mesma obra diz: "... um movimento social, que apenas move as pessoas, é meramente uma revolta. Um movimento que muda as coisas, as pessoas e as instituições, é uma revolução". Por isso, pode-se considerar, que o Dr. Martin Luther King foi um revolucionário! Por não ter sido um conformista, nem um fatalista, não ter aceite a passividade, mas antes ter ido à luta e ao combate pelas causas que defendia! Não tendo usado de meios violentos, nem por isso deixou de alcançar os objectivos propugnados por aqueles que defendiam métodos mais radicais e ortodoxos! O exemplo de Martin Luther King, é uma grande lição de vida, e um ensinamento, que deve ser seguido, nestes tempos difíceis que correm, pelas sociedades civis que um pouco por todo o mundo, vêm lutando pela dignificação do Homem!